quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Joelmir Beting - Despedida do filho, Mauro. (com aúdio)


"Nunca falei com meu pai a respeito depois que o Palmeiras foi rebaixado. Sei que ele soube. Ou imaginou. Só sei que no primeiro domingo depois da queda para a Segunda pela segunda vez, seu Joelmir teve um derrame antes de ver a primeira partida depois do rebaixamento. Ele passou pela tomografia logo pela manhã. Em minutos o médico (corintianíssimo) disse que outro gigante não conseguiria se reerguer mais”.

No dia do retorno à segundona dos infernos meu pai começou a ir para o céu. As chances de recuperação de uma doença autoimune já não eram boas. Ficaram quase impossíveis com o que sangrou o cérebro privilegiado. Irrigado e arejado como poucos dos muitos que o conhecem e o reconhecem. Amado e querido pelos não poucos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.

O melhor pai que um jornalista pode ser. O melhor jornalista que um filho pode ter como pai.

Preciso dizer algo mais para o melhor Babbo do mundo que virou o melhor Nonno do Universo?

Preciso. Mas não sei. Normalmente ele sabia tudo. Quando não sabia, inventava com a mesma categoria com que falava sobre o que sabia.

Todo pai é assim para o filho. Mas um filho de jornalista que também é jornalista fica ainda mais órfão.

Nunca vi meu pai como um super-herói. Apenas como um humano super. Só que jamais imaginei que ele pudesse ficar doente e fraco de carne. Nunca admiti que nós pudéssemos perder quem só nos fez ganhar.

Por isso sempre acreditei no meu pai e no time dele. O nosso.

Ele me ensinou tantas coisas que eu não sei. Uma que ficou é que nem todas as palavras precisam ser ditas. Devem ser apenas pensadas. Quem fala o que pensa não pensa no que fala. Quem sente o que fala nem precisa dizer.

Mas hoje eu preciso agradecer pelos meus 46 anos. Pelos 49 de amor da minha mãe. Pelos 75 dele.

Mais que tudo, pelo carinho das pessoas que o conhecem, logo gostam dele. Especialmente pelas pessoas que não o conhecem, e algumas choraram como se fosse um velho amigo.

Uma coisa aprendi com você, Babbo. Antes de ser um grande jornalista é preciso ser uma grande pessoa.

Com ele aprendi que não tenho de trabalhar para ser um grande profissional. Preciso tentar ser uma grande pessoa. Como você fez as duas coisas.

Desculpem, mas não vou chorar. Choro por tudo. Por isso choro sempre pela família, Palmeiras, amores, dores, cores, canções.

Mas não vou chorar por algo mais que tudo que existe no meu mundo que são meus pais. Meus pais, que também deveriam se chamar minhas mães, sempre foram presentes. Um regalo divino.

Meu pai nunca me faltou mesmo ausente de tanto que trabalhou. Ele nunca me falta por que teve a mulher maravilhosa que é dona Lucila. Segundo seu Joelmir, a segunda maior coisa da vida dele. Que a primeira sempre foi o amor que ele sentiu por ela desde 1960. Quando se conheceram na rádio 9 de julho. Onde fizeram família. Meu irmão e eu. Filhos do rádio.

Filhos de um jornalista econômico pioneiro e respeitado, de um âncora de TV reconhecido e inovador, de um mestre de comunicação brilhante e trabalhador.

Meu pai.

Eu sempre soube que jamais seria no ofício algo nem perto do que ele foi. Por que raros foram tão bons na área dele. Raríssimos foram tão bons pais como ele. Rarésimos foram tão bons maridos. Rarissíssimos foram tão boas pessoas. E não existe outra palavra inventada para falar quão raro e caro palmeirense ele foi.

Mas sempre é bom lembrar que palmeirenses não se comparam. Não são mais. Não são menos. São Palmeiras. Basta.

Como ele um dia disse no anúncio da nova arena, em 2007, como esteve escrito no vestiário do Palmeiras no Palestra, de 2008 até a reforma: “explicar a emoção de ser palmeirense a um palmeirense é totalmente desnecessário. E a quem não é palmeirense… é simplesmente impossível!.
A ausência dele não tem nome. Mas a presença dele ilumina de um modo que eu jamais vou saber descrever. Como jamais saberei escrever o que ele é. Como todo pai de toda pessoa. Mais ainda quando é um pai que sabia em 40 segundos descrever o que era o Brasil. E quase sempre conseguia. Não vou ficar mais 40 frases tentando descrever o que pude sentir por 46 anos.

Explicar quem é Joelmir Beting é desnecessário. Explicar o que é meu pai não estar mais neste mundo é impossível.

Nonno, obrigado por amar a Nonna. Nonna, obrigado por amar o Nonno.
Os filhos desse amor jamais serão órfãos.

Como oficialmente eu soube agora, 1h15 desta quinta-feira, 29 de novembro. 32 anos e uma semana depois da morte de meu Nonno, pai da minha guerreira Lucila.

Joelmir José Beting foi encontrar o Pai da Bola Waldemar Fiume nesta quinta-feira, 0h55."
Mauro Beting



quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Amigos para sempre (Luís Giffoni)



"O rapaz entrou no pré­­­dio em passadas de bêbado, tropeçou no pequeno degrau da portaria, quase caiu. Falava muito, a voz se arrastava, o corpo exalava cerveja e cachaça, os cabelos pareciam sujos de talco misturado com ketchup. A julgar pelos sinais, a farra tinha sido boa. Contou-me que voltava da comemoração do último dia de aula. Ele nem acreditava que não havia mais re­­posição nem provas, apenas a formatura o aguardava, após cinco anos de faculdade de engenharia. Já alugara o capelo e o modelito de formando com a capa de Batman, traje agora exigido na cerimônia. As fotografias oficiais estavam prontas. Os convites, distribuídos. Em sua camiseta, coberta de desenhos e bocas de batom, três palavras escritas com esferográfica me chamaram a atenção: Amigos para Sempre. Abaixo, uma dúzia de assinaturas.

O rapaz ainda não se deu conta, mas o término das aulas é a semente de uma grande saudade. Todo novembro e dezembro, época em que as despedidas e formaturas se concentram, novas turmas iniciam a rotina de trabalho, e cada pessoa toma seu rumo, com frequência longe de Belo Horizonte. Com o passar do tempo, talvez devido ao aumento das responsabilidades que a vida impõe, talvez pelo avanço da idade, o espírito irreverente do jovem se vai, e entram em campo a sisudez, a reserva, o ar de decano. Claro, há quem não se deixe dominar tão cedo pelo peso do compromisso, mas a maioria acaba cedendo. Então surge a nostalgia. O profissional se lembra dos anos de faculdade, recorda o espírito livre, leve e solto do último dia de aula, e a saudade chega. O tempo não poupa nem a mais elevada autoestima.

As reuniões de turma são um remédio eficaz, porém de curta duração, para essa saudade. Nem bem os colegas se reencontram, trocam abraços, tateiam assuntos, reconhecem-se, avançam. Dali a minutos, o antigo clima de camaradagem desponta, os anos se apagam, a conversa rola, a memória se instala, triunfante: baixam as lembranças, baixam os casos e causos, baixa a juventude que escapou em ritmo de Usain Bolt. Os amigos se ancoram no passado, em episódios que jamais mu­­­darão, em histórias que, ano após ano, serão repetidas à exaustão, sobretudo as mais engraçadas. Elas serão o referencial permanente, o graal revisitado. Livres da formalidade, alguns dos presentes ao encontro ensaiam um retorno no tempo: viram adolescentes. Os mais circunspectos, mais idosos do que merecem, os repreendem. Os outros riem. Aqui e ali, despontam os desgarrados: o economista que virou cineasta, o dentista que se tornou fazendeiro, o médico que explora hotel.

Imaginemos o formando de hoje, aquele da camiseta com as três palavras, numa reunião com os colegas de engenharia daqui a quarenta anos. Um deles, suponhamos que seu nome seja Eduardo, tomou a generosa iniciativa de reuni-los, procurando-os mundo afora. Muitos não se viam desde o porre da última comemoração. Transformaram-se em senhores calvos, os cabelos brancos dominam os poucos que ainda sobram, uma barriguinha decerto apareceu, os gestos tornaram-se mais comedidos. Alguns acreditam tanto no casamento que trazem a sexta esposa, ou esposo. No entanto, apesar das décadas decorridas, as diferenças logo desaparecem, o passado se instala, todos voltam a ser os jovens adultos que um dia se despediram escrevendo mensagens nas camisetas que já não existem, porém as três palavras permanecem para selar o convívio: Amigos para Sempre. Se o corpo não vence o tempo, há sentimentos que permanecem incólumes. A amizade é um deles."
Fonte: http://vejabh.abril.com.br/edicoes/amigos-sempre-722545.shtml

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Navio Negreiro - Castro Alves




Navio Negreiro
                       (Castro Alves)

"(...) Era um sonho dantesco... o tombadilho  
Que das luzernas avermelha o brilho. 
Em sangue a se banhar. 
Tinir de ferros... estalar de açoite...  
Legiões de homens negros como a noite, 
Horrendos a dançar... 

Negras mulheres, suspendendo às tetas  
Magras crianças, cujas bocas pretas  
Rega o sangue das mães:  
Outras moças, mas nuas e espantadas,  
No turbilhão de espectros arrastadas, 
Em ânsia e mágoa vãs! 

E ri-se a orquestra irônica, estridente... 
E da ronda fantástica a serpente  
Faz doudas espirais ... 
Se o velho arqueja, se no chão resvala,  
Ouvem-se gritos... o chicote estala. 
E voam mais e mais... 

Presa nos elos de uma só cadeia,  
A multidão faminta cambaleia, 
E chora e dança ali! 
Um de raiva delira, outro enlouquece,  
Outro, que martírios embrutece, 
Cantando, geme e ri! 

No entanto o capitão manda a manobra, 
E após fitando o céu que se desdobra, 
Tão puro sobre o mar, 
Diz do fumo entre os densos nevoeiros: 
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros! 
Fazei-os mais dançar!..." 

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . 
E da ronda fantástica a serpente 
Faz doudas espirais... 
Qual um sonho dantesco as sombras voam!... 
Gritos, ais, maldições, preces ressoam! 
          E ri-se Satanás!...  (...)"


 
 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Isto - Fernando Pessoa - Contribuição da Pâmela Machado..




 

ISTO

Dizem que finjo ou minto 
Tudo que escrevo. Não. 
Eu simplesmente sinto 
Com a imaginação. 
Não uso o coração. 

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda, 
É como que um terraço 
Sobre outra coisa ainda. 
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio 
Do que não está ao pé, 
Livre do meu enleio, 
Sério do que não é. 
Sentir? Sinta quem lê! 

(Fernando Pessoa)

domingo, 28 de outubro de 2012

Hifen com prefixos


"(...) O H é majestoso. Não se mistura. O prefixo, seguido da letra muda, vem isolado:
anti-higiênico,
super-herói,
mini-história,
sub-humanidade.

Os iguais se rejeitam. Quando duas letras iguais se encontram, provocam curto-circuito. O tracinho evita tragédias:
micro-ondas,
super-região,
contra-ataque,
auto-orientação.

Os diferentes se atraem. Duas letras diferentes funcionam como imã. Colam-se num piscar de olhos:
autoescola,
supermercado,
contrarregra,
macrossistema,
minissaia,
automotivação."

SQUARISI. Dad, Jornal Estado de Minas. Out. 2012.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Júlio Verne - A Volta ao Mundo em 80 Dias


Le Tour du Monde en 80 Jours
 
"(...) Ao meio-dia o guia deu o sinal de partida. O terreno tomou bem depressa um aspecto selvático. Às grandes florestas sucederam-se os matagais de tamarindos e de palmeiras anãs, em seguida planícies extensas e áridas, eriçadas de arbustos enfezados e cobertas em certos sítios de grandes pedaços de sienitos. Toda esta parte do alto Bundelkund, pouco frequentada dos viajantes, é habitada por uma população fanática, endurecida nas práticas mais terríveis da religião indiana. O domínio dos Ingleses não pôde estabelecer-se regularmente num território submetido à influência dos rajás, os quais seria difícil alcançar nas suas posições inacessíveis dos Vindhyas.
   Por várias vezes os viajantes avistaram alguns bandos de índios selvagens e ferozes, que faziam um gesto de cólera ao verem passar o veloz quadrúpede. Entretanto o parse evitava-os o mais possível, considerando-os como criaturas cujo encontro seria funesto. No decurso deste dia foram vistos poucos animais, apenas alguns macacos, que fugiam... (...)"

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A Sombra do Vento


"Uma tarde de chuva na encosta leste do cemitério de Montijuic, olhando o mar em meio a um bosque de mausoléus impossíveis, um bosque de cruzes e lápides talhadas com rostos de caveiras e crianças sem lábios nem olhar, que fedia a morte, as silhuetas de uma vintena de adultos dos quais eu só conseguia me lembrar das roupas pretas, empapadas de chuva, e a mão do meu pai segurando a minha com força excessiva, como se assim ele quisesse silenciar suas lágrimas, enquanto as palavras ocas de um sacerdote caíam naquela fossa de mármore para dentro da qual três coveiros sem rosto empurravam um caixão cinzento onde o aguaceiro deslizava como cera fundida e onde eu acreditava ouvir a voz da minha mãe, chamando-me, suplicando para eu libertá-la daquela prisão de pedra e de escuridão, enquanto eu só conseguia tremer e murmurar sem voz para meu pai não apertar tanto a minha mão, pois estava me machucando, e aquele cheiro de terra fresca, terra de cinza e de chuva, devorava tudo, cheiro de morte e de vazio." (...)

ZÁFON, Carlos Ruiz. A Sombra do Vento. Tradução de Marcia Ribas. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2007, p. 251.

domingo, 19 de agosto de 2012

Amor é síntese - Mário Quintana


AMOR É SÍNTESE

Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...

Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.
Mário Quintana 

"Eis que o amor pode ser síntese, mas nunca sintético" (Eduardo Leandro)

domingo, 29 de julho de 2012

Pelas Mãos de Fídias - Jogos Olímpicos

O sonho de uma sombra, eis o homem” (Píndaro)

Estou chegando a Olímpia – ano de 776, a.C.. Venho de Atenas, de onde saí, há cerca de duas semanas, trazido por um sonho. Só Deus sabe quanto penei ao longo da travessia. Trago os pés cobertos de bolhas d`água. Caminhei horrores pelo deserto de Arcadia, árduo chão de pedras repisadas. Hoje de manhã, quase ao final da viagem, ao tentar colher uma tâmaras, escapei de uma boa: fui atacado por um enxame de abelhas. Mal tive tempo de pular dentro d`água. Mergulhei no rio Alfeu pra salvar minha pele, minha vida.
Olímpia está tomada de visitantes. É gente que vem dos mais distantes lugares da Grécia. São artistas, charlatães, camponeses, mágicos, pescadores, filósofos. Todos, como eu, vieram para os Jogos Olímpicos que começam hoje. Melhor dizendo, recomeçam hoje. Os Jogos estavam suspensos há centenas de anos, segundo me conta um pastor de ovelhas chamado Fídias que, diga-se de passagem, não tem qualquer parentesco com o escultor Fídias, o qual, aliás, ainda nem sequer nasceu. Coisa engraçada: o tempo por aqui, conta-se pelo avesso. É o caso do próprio e renomado escultor Fídias que nasceu no ano de 490 a.C. e morreu no ano de 432. – Os gregos de outrora morriam antes de nascer…
Os Jogos ressurgem neste belo dia de sol e caem justamente na primeira lua cheia seguinte ao solstício do verão. Respeita-se, assim, o ritual dos Jogos, criados pelo rei Penélope para homenagear os camponeses, durante a colheita das uvas.
O dia está nascendo em Olímpia. Já começa a chegar muita gente ao estádio. À primeira vista, a pequena multidão lembra um bloco fantasiado de grego no carnaval carioca. Vestem todos saiotes e túnica, com uma discreta tiara de pano cingindo a cabeça. Não vejo uma só mulher na torcida. Fídias me explica: é proibido! Mulher não pode assistir aos Jogos. A única que tentou driblar a lei foi a mãe de um atleta. Ela era treinadora do próprio filho e entrou na pista disfarçada de homem. Descobriram e foi o diabo! A pobrezinha só não morreu atirada num precipício porque era filha de um herói de guerra. Mas, desde então, para evitar novas astúcias femininas, o atleta é obrigado a competir nuzinho em pelo. Na pista, seja atleta, treinador ou mesmo juiz, a ordem é todo mundo nu.
A idéia de realizar os Jogos Olímpicos da Antiguidade de quatro em quatro anos é rebento de muitos pais. Um deles teria sido Hércules. Corre em Atenas que, um dia, Augias, rei de Élida, confiou ao gigante Hércules a tarefa de limpar os mal-cheirosos currais da cidade. E prometeu recompensá-lo com um saco de ouro. Hércules, então, meteu mãos à obra: escancarou as porteiras dos estábulos, soltou os três mil bois que lá viviam porcamente e, com a força gigantesca que os deuses nunca lhe negaram, desviou o leito do rio Alfeu, fazendo que a correnteza arrastasse em poucas horas toda a sujeira dos estábulos. Foi a primeira obra realmente hercúlea de uam criatura humana.
Na hora de honrar a palavra, o rei Augias roeu a corda. Disse que não ficara nada satisfeito com o resultado do trabalho. Hércules, com toda razão, virou uma fera e, sem mais aquela, despachou o monarca, cravando-lhe no peito uma lança mortal. Por sinal, a mesma lança com a qual matara, dias antes, o leão de Nemeas. No dia seguinte, Hércules celebraria a façanha, disputando com os quatro irmãos, uma corrida de 600 pés de distância.
Hoje, não haverá competição. O programa limita-se à abertura dos Jogos, com o juramento dos juízes e dos atletas. Amanhã, a disputa começa com o Pentatlo. Meu amigo Fídias, um verdadeiro apóstolo dessa religião chamada olimpismo, sabe-se de cór o regulamento dos Jogos. São 14 artigos, o primeiro dos quais reza que escravos e estrangeiros não podem competir; o quinto proíbe mulher de assistir aos Jogos; o sétimo diz que nenhum atleta pode matar seu adversário; o décimo terceiro avisa que qualquer participante tem direito de recorrer ao Senado, em Atenas, contra a decisão dos juízes.
São oito da noite. Estou exausto, Fídias também. A cerimônia de inauguração dos Jogos Olímpicos foi bem o que imaginávamos. Um espetáculo solene e emocionante que terminou com um belo entardecer: de um lado, o sol deitando no céu uma colossal vermelhidão; do outro lado, a lua chegando, olimpicamente.

(Armando Nogueira)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dia do Amigo - Vinícius de Moraes e Machado de Assis.

SONETO DO AMIGO


Enfim, depois de tanto erro passado 
Tantas retaliações, tanto perigo 
Eis que ressurge noutro o velho amigo 
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado 
Com olhos que contêm o olhar antigo 
Sempre comigo um pouco atribulado 
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano 
Sabendo se mover e comover 
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...


(Vinícius de Moares)




BONS AMIGOS


Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!


(Machado de Assis)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Next Year - Foo Fighters

Essa faz parte do set list da banda Rooster (nome provisório), onde estou tocando. Excelente som!


Next Year

Foo Fighters

I'm in the sky tonight,
There I can keep by your side
Watching the wide world riot and hiding out
I'll be coming home next year
Into the sun we climb
Climbing our wings will burn white
Everyone strapped in tight
We'll ride it out
I'll be coming home next year
Come on get on get on
Take it till life runs out
No one can find us now,
Living with our heads underground
Into the night we shine
Lighting the way we glide by
Catch me if I get too high
When I come down
I'll be coming home next year
I'm in the sky tonight
There I can keep by your side
Watching the whole world wind around and round
I'll be coming home next year
I'll be coming home next year
Everything's alright up here
When I come down
I'll be coming home next year
Say good-bye

Traduzir-se


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Traduzir-se(Ferreira Gullar) 

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
alomoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?


terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia dos Namorados - Querer...



Querer

(Pablo Neruda)

Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
E de esperar-te quando não te espero

Passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,

E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,

Roubando-me a chave do sossego.
Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a sangue e a fogo.





segunda-feira, 11 de junho de 2012

NO CAMINHO COM MAIAKOVSKI


NO CAMINHO COM MAIAKOVSKI

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa
casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da
garganta.
E já não podemos dizer nada.
                                                                                                                                                                                                       atribuído a Brecht e Maiakovski

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Não Sei... Cora Coralina




NÃO SEI...
Não sei... se a vida é curta...
Não sei...
Não sei...
se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura...
enquanto durar.
Cora Coralina

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Rifa-se um coração




Rifa-se um coração.(Clarice Lispector)

Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade
está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente
que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado,
coração que acha que Tim Maia estava certo
quando escreveu... "não quero dinheiro,
eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".
Um idealista...
Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece,
e mantém sempre viva a esperança de ser feliz,
sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações
e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste
em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que,
abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas,
mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado
indicado apenas para quem quer viver intensamente e,
contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida
matando o tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:
" O Senhor poder conferir", eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer".
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro
que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que,
ainda não foi adotado, provavelmente,
por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar, mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário
a publicar seus segredos e, a ter a petulância
de se aventurar como poeta.

sábado, 28 de abril de 2012

O poço


 
O Poço

Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.

Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.

Pablo Neruda

666

SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente ...

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Mario Quintana ( In: Esconderijo do tempo)
Ficheiro:Drummond e Quintana.jpg

Esperança


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Augusto dos Anjos
A esperança
A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.
Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?
Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro - avança!
E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!

O sonho

O sonho

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz. 

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.
Clarice Lispector



sábado, 7 de abril de 2012

Dia dos Ovos de Chocolate



Amigos, os tempos mudaram, e seus valores também. A Páscoa para alguns, não passa de um domingo para se ganhar ovos de chocolate e do plano perfeito de marketing para vendê-los, cada vez mais e mais caro.
Nem os ovos de chocolates são os mesmos, já se tem um cinto de utilidades do Batman dentro do ovo, ou kit de maquiagem. Ora bolas!!! O símbolo da Páscoa é um coelho, que nem bota ovos! E celebraremos o renascimento de um ovo? Reflitam!!! Feliz Páscoa!!!


Sermão da Primeira Oitava de Páscoa, do Padre António Vieira

"A tragédia dos dois primeiros atos da famosa comédia de Páscoa. As lágrimas da Madalena, a tristeza
dos discípulos de Emaús e o malogro da expedição em busca das minas. Assuntos do sermão: Muito
melhor foi não se descobrirem as minas esperadas, que descobrirem-se; em lugar das minas incertas,
que se não descobriram, descobrirá Deus outras certas, e muito mais ricas. Em um dia tão alegre
como o de Páscoa, em que, pela gloriosa Ressurreição de Cristo, Redentor nosso, se revogou com a
mesma glória a antiga sentença de morte fulminada contra Adão e Eva, digna coisa de admirar é que
nem nas filhas de Eva, nem nos filhos de Adão, se achem efeitos de alegria. Amanheceu o sol neste
formoso dia mais arraiado que nunca, acrescentando tantos raios a seus naturais resplendores, quantos
tinha eclipsado e escondido no dia da Paixão: e que é o que achou no mundo o mesmo sol, ou quando
nasceu no Oriente, ou quando se foi pôr no Ocaso? Quando nasceu achou a terra orvalhada das
lágrimas da Madalena, como se ela fora a aurora daquele dia: Mulier, quid ploras (2)?"

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Adeus Millôr Fernandes!

Apesar de tardia, esta coluna me parece muito oportunda, pois trás para a pauta o brilhantismo que os meios de comunicação, rádio, tv e internet tiveram na última semana. A mídia se curvou às frases inteligentes, críticas ácidas e as pinturas das quase nove décadas de Millôr Fernandes. Por alguns momentos cessaram os borbadeios fúteis dos Brothers and Sisters, houve uma pausa nos 15 minutos de fama dos memes da internet e seus milhões de acesso, que acrescetam tanto quanto o bater das asas de uma borboleta de uma ilha do pacífico.
Pois bem, voltamos a realidade. Voltamos a rotina. E o mundo digital ou físico, retorna a sua maravilhosa medíocridade, dando a importância demasiada às coisas menos importantes. Adeus Millôr. Ficaremos por aqui, tentando modificar esta realidade.



"Se uma imagem vale mais que mil palavras, então diga isto com uma imagem." Millôr Fernandes.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Escrita

"No peito traz águia e nome/ nomes próprios com 
Aracy/ Aracaju/ Arthur/ Argélia/ A (...) Eu preciso destas palavras.
Escrita."
Arthur Bispo do Rosário

Escrita. As palavras me perseguem, ou talvez, eu as persiga. Nomes me perseguem, como Arthur, Aracy e por que não, Aracaju? Gosto que me persigam, que andem comigo, gosto porque são parte de mim e talvez assim, eu não me esqueça quem sou.
Por onde andei, para onde irei? As palavras me perseguem, eu as persigo. Elas me encontram, eu as encontro e novamente me encontro. Elas me revelam o caminho. Nos pertencemos. 
“Eu preciso destas palavras.” 
Escrita. 
Pâmela Machado 

quarta-feira, 14 de março de 2012

Dia da Poesia - 14 de março


 

POESIA
(Legião Urbana)




Como expressar nas palavras,
os gestos que queria fazer,
as coisas que gostaria de ver,
os belos amanhecer e entardecer,
e o sombrio morrer...
faltam-se falas.
Mas ao expressar
o simples fato de escrever, falar,
nada existe para preocupar...
nada pode deturpar,
na essência pelo chorar,
no gesto por beijar,
comover e alavancar
o puro e simples "amar".


quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher

DIA INTERNACIONAL DA MULHER. 


O homem pensa.
A mulher sonha.


Pensar é ter cérebro.
Sonhar é ter na fronte uma auréola.


O homem é um oceano.
A mulher é um lago.


O oceano tem a pérola que embeleza.
O lago tem a poesia que deslumbra.


O homem é a águia que voa.
A mulher, o rouxinol que canta.


Voar é dominar o espaço.
Cantar é conquistar a alma.


O homem tem um farol: a consciência.
A mulher tem uma estrela: a esperança.


O farol guia.
A esperança salva.


Enfim, o homem está colocado onde termina a terra.
A mulher, onde começa o céu!!!
Victor Hugo

domingo, 26 de fevereiro de 2012

FAÇA ACONTECER

Segue um trecho do livro de um amigo. Pra animar a semana e levantar o astral. Para lembrarmos que não podemos guardar nada de ruim, desarrumando as malas no fim de cada viagem e se lembrando das coisas boas. Vamos nos mexer. Boa Semana.

FAÇA ACONTECER
(Carmo Antunes)

A vida se torna bela, quando se olha para trás e vê tudo que passou, com orgulho, sentimento e saudade.

O que mais importa para nós é ter saúde, senso de amor, força de vontade e perseverança para vencer.

Vivamos cada momento da melhor forma possível, como se o fim dos nossos dias fosse agora.

Temos que nos sentir bem, de bem com a vida, buscamos conquistar boas ações realizando nossos sonhos, nossos desejos, nossos amores, sem medo, sem preconceito, sem guardar segredo.

Esqueçamos os problemas e desilusões, abrindo nossos corações para novos desafios, não ficando parado a esperar que as coisas aconteçam; faça acontecer, sorria, expresse, cante e encante, apareça em todos os instantes da vida.


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Aqui

Estamos aqui, de volta, depois do carnaval. Tiramos as nossas fantasias, e nos mostramos despidos e em frangalhos. Nada melhor que estarmos de volta, aqui:

                                                    Aqui
                                                          (Pablo Neruda)


Vim aqui para contar os sinos     - Me vine aquí a contar las campanas
Que vivem no mar,                        - Que viven en el mar,
Que soam no mar,                         - Que suenan en el mar,
Dentro do mar.                              - Dentro del mar.


Por isso vivo aqui.                         - Por eso vivo aquí.


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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Quando a tecnologia atrapalha



     Não sou saudosista, e estou antenado nas novidades da tecnologia. Mas em alguns aspectos a tecnologia vem de encontro à atrapalhar a evolução do indivíduo, ameaçando a sua criatividade. 
Ficamos preguiçosos. Tentamos solucionar as anomalias do mundo real em apenas alguns cliques. Não existem fronteiras, mas estamos distante da sociedade, assistindo tudo do lado de fora.
Antes fazíamos manifestações, abaixo assinados, caras pintadas... Hoje, movimentamos zilhões de abaixo assinados por e-mails, terabytes de manifestações inúteis nas redes sociais, e fotos de 12 megapixels.
Lembram deste meme? "Parem o mundo! Eu quero descer!". Hoje seria diferente:
- Desconectem o mundo! Eu quero um pouco de privacidade.
Alguns elétrons encontram satisfação no seu sexo virtual, daí nascem prótons e nêutrons! A fissão nuclear não passa de um tropeço do século passado.
Bem... lá se vai o desabafo. Mas não desisto!!! A máquina nunca irá superar o homem!!! 


Segue uma crônica do LG Rodrigues, Profile, bem adequada:

"Quando a tecnologia atrapalha

Por LG Rodrigues

Estudos indicam que a dependência das novas tecnologias por parte dos jovens cresce, assim como as novidades direcionadas para o setor

Por acaso você usa algum aparelho eletrônico com muita frequência? Provavelmente sim, afinal o século XXI representou uma explosão tecnológica de proporções gigantescas para a história da humanidade. Utilizar tais aparelhos apenas para otimizar seu cotidiano é algo aceitável e muito normal nos dias de hoje. Entretanto, quando a utilização deles foge do controle e o conforto é tomado pela obsessão, o cenário muda indicando que talvez seja a hora para começar a maneirar, não apenas com o uso excessivo dos aparelhos high-tech, mas também com a dependência de internet e afins.

Às seis horas da manhã o celular da estudante paulistana de 17 anos, Karine Penha, dispara seu alarme e rapidamente ela desperta. É o celular da jovem que a alerta todos os dias sobre o começo de uma nova manhã, e ainda é o mesmo aparelho que lhe servirá de MP3 player durante o caminho de alguns poucos quilômetros que ela faz até o cursinho preparatório para vestibular mais próximo de sua casa.

Andar sem o seu “amado” celular é algo fora de questão. “É como se não pudesse viver sem ele, o dia não irá correr como de costume”, comenta Karine. O aparelho telefônico é simplesmente o melhor amigo da jovem enquanto ela passa seu dia. Ela ainda revela que já utilizou o aparelho até mesmo para dar uma “mãozinha” durante as provas, passando cola para seus colegas de classe.

Não fosse suficiente um aparelho celular, Karine possui dois. Ela diz que o primeiro já possuía há algum tempo, foi quando ganhou um segundo celular e passou a utilizar ambos os aparelhos. Quando indagada o porquê disso ela diz que não sabe precisar exatamente a necessidade de ter mais que um.“Sabe que eu não sei? Eu tinha um, aí ganhei outro e continuo usando os dois, eu era dependente de um e este era suficiente agora preciso dos dois. A não ser que eu ganhe um outro com dois chips”.

Tirando o celular que a auxilia desde que acorda até quando ela dorme, a jovem também diz que seu computador é grande aliado tanto na hora de relaxar quanto na hora de trabalhar. “Boa parte dos meus trabalhos pro cursinho faço no meu PC”. Quando perguntada sobre as horas livres ela diz que passa um bom tempo navegando, embora nem tanto quanto no passado. “Uso muito o MSN e Orkut para conversar com meus amigos, até mesmo agora para te dar a entrevista, mas já não passo tanto tempo online quanto costumava, agora que estou me preparando para o vestibular do ano que vem”.

Porém quando perguntada sobre qual item tecnológico que possui do qual ela é mais dependente a resposta vem sem nenhum tipo de hesitação. “Minha chapinha. Não conseguiria sobreviver sem ela de jeito algum, é minha companheira que eu nunca passo um dia sequer sem usar”, finaliza a estudante.

Essa dependência por eletrônico ainda não possui um nome oficial, porém pode ser chamada de Síndrome de Contato Permanente. Mas por que isso se dá? Por que alguns jovens chegam a roubar dinheiro apenas com o intuito de freqüentar lan-houses? A resposta seria a junção de muitas informações com o crescente interesse pelas novas tecnologias, o que acaba causando uma euforia no cérebro das pessoas e as deixa em estado alerta o que causa uma sensação agradável para a mente humana.

De acordo com a psicóloga Sandra Martins de Lima, as pessoas que desenvolvem a síndrome já apresentam alguma doença antes, como fobias, depressão ou baixa autoestima. “Até mesmo uma família desestruturada pode ser a causa de dependência tecnológica em um jovem dos dias de hoje”.

A tecnologia, portanto, acaba se tornando uma espécie de refúgio para os problemas pessoais dos jovens, os quais sem dúvidas tentam fugir do mundo real ou construir uma realidade própria, uma vez que o uso dos eletrônicos deixa o cérebro mais relaxado e sem conseguir distinguir a vida real da imaginária.

Por isso é necessário que se mantenha um controle sobre o uso dos aparelhos tecnológicos e que se imponha um limite que defina até onde o uso de tal aparelhagem é por mero conforto e diversão ou quando passa a se tratar de uma necessidade desenfreada. Isso sem contar que a utilização excessiva de alguns aparelhos como o computador pode acarretar em outros problemas como de visão e até mesmo de postura. “Impor limites ainda é a melhor maneira de prevenir que os aparelhos tecnológicos venham a interferir na vida dos jovens, e esse limite cabe aos pais definir”.

Quando o jovem já atingiu uma idade mais madura, porém aí esse limite deve ser colocado pelo próprio usuário. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Lucas Patrício, o qual trabalha com relações públicas e adora qualquer tipo de “bugiganga” eletrônica. Por e-mail, ele respondeu. “Apesar de a tecnologia fazer parte do meu dia-a-dia e eu ser aficionado por ela, não me considero nem um pouco viciado. Tenho costume de sempre me manter atualizado sobre o assunto, gosto de ter aparelhos bacanas, mas isso está longe de ser um vício.”

Assim como a jovem Karine, Lucas diz que a internet também é uma ótima maneira de interagir socialmente com outras pessoas, mas como tudo na vida é necessário manter um equilíbrio. “Eu saio todos os finais de semana com minha namorada, amigos, jogo bola, como qualquer outra pessoa.”

Quanto a gastos, ele revela que de vez em quando passou da conta, porém não é algo que acontece frequentemente e que assim como nas saídas de casa ele também sabe controlar e equilibrar. “Tem gente que gasta o salário inteiro no super-mercado, outros no cabeleireiro... É uma escolha individual.”

No fim das contas, o que fica é o seguinte recado: não deixe de usar as novas tecnologias, pelo contrário, mantenha-se sempre atualizado sobre novos assuntos, aparelhos e etc. Mas como tudo na vida, é necessário que o próprio usuário mantenha certo controle sob aquilo que ele faz. Verificar se anda abusando além da conta na hora de se divertir de forma high-tech é um conselho dos economistas e psicólogos. Assim como Sandra aconselha: “Quem sabe dosar, sabe usar”.
(...)
Acesse na íntegra: http://revistaprofile2010.blogspot.com/2010/05/introducao.html