sábado, 28 de abril de 2012

O poço


 
O Poço

Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.

Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.

Pablo Neruda

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SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente ...

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Mario Quintana ( In: Esconderijo do tempo)
Ficheiro:Drummond e Quintana.jpg

Esperança


 Ficheiro:Augusto Anjos.jpg
Augusto dos Anjos
A esperança
A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.
Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?
Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro - avança!
E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!

O sonho

O sonho

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz. 

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.
Clarice Lispector



sábado, 7 de abril de 2012

Dia dos Ovos de Chocolate



Amigos, os tempos mudaram, e seus valores também. A Páscoa para alguns, não passa de um domingo para se ganhar ovos de chocolate e do plano perfeito de marketing para vendê-los, cada vez mais e mais caro.
Nem os ovos de chocolates são os mesmos, já se tem um cinto de utilidades do Batman dentro do ovo, ou kit de maquiagem. Ora bolas!!! O símbolo da Páscoa é um coelho, que nem bota ovos! E celebraremos o renascimento de um ovo? Reflitam!!! Feliz Páscoa!!!


Sermão da Primeira Oitava de Páscoa, do Padre António Vieira

"A tragédia dos dois primeiros atos da famosa comédia de Páscoa. As lágrimas da Madalena, a tristeza
dos discípulos de Emaús e o malogro da expedição em busca das minas. Assuntos do sermão: Muito
melhor foi não se descobrirem as minas esperadas, que descobrirem-se; em lugar das minas incertas,
que se não descobriram, descobrirá Deus outras certas, e muito mais ricas. Em um dia tão alegre
como o de Páscoa, em que, pela gloriosa Ressurreição de Cristo, Redentor nosso, se revogou com a
mesma glória a antiga sentença de morte fulminada contra Adão e Eva, digna coisa de admirar é que
nem nas filhas de Eva, nem nos filhos de Adão, se achem efeitos de alegria. Amanheceu o sol neste
formoso dia mais arraiado que nunca, acrescentando tantos raios a seus naturais resplendores, quantos
tinha eclipsado e escondido no dia da Paixão: e que é o que achou no mundo o mesmo sol, ou quando
nasceu no Oriente, ou quando se foi pôr no Ocaso? Quando nasceu achou a terra orvalhada das
lágrimas da Madalena, como se ela fora a aurora daquele dia: Mulier, quid ploras (2)?"

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Adeus Millôr Fernandes!

Apesar de tardia, esta coluna me parece muito oportunda, pois trás para a pauta o brilhantismo que os meios de comunicação, rádio, tv e internet tiveram na última semana. A mídia se curvou às frases inteligentes, críticas ácidas e as pinturas das quase nove décadas de Millôr Fernandes. Por alguns momentos cessaram os borbadeios fúteis dos Brothers and Sisters, houve uma pausa nos 15 minutos de fama dos memes da internet e seus milhões de acesso, que acrescetam tanto quanto o bater das asas de uma borboleta de uma ilha do pacífico.
Pois bem, voltamos a realidade. Voltamos a rotina. E o mundo digital ou físico, retorna a sua maravilhosa medíocridade, dando a importância demasiada às coisas menos importantes. Adeus Millôr. Ficaremos por aqui, tentando modificar esta realidade.



"Se uma imagem vale mais que mil palavras, então diga isto com uma imagem." Millôr Fernandes.